Capítulo 2– As bases históricas do subdesenvolvimento (I)
1-Capitalismo comercial, colonialismo e subdesenvolvimento
No caso do subdesenvolvimento e do desenvolvimento dos países, o conhecimento histórico é esclarecedor. Ele permite que compreendamos as origens históricas que impedem um povo de se desenvolver política e economicamente.
O colonialismo
O colonialismo deve ser entendido como um sistema de relações econômicas, políticas, sociais e culturais que tornam uma sociedade (a colônia) dependente de outra (a metrópole). Foi o caso do Brasil no passado histórico até 1822.
Podemos distinguir o período do colonialismo em dois momentos:
· Do século XV ao XVIII, quando o capitalismo encontrava-se na sua fase comercial (capitalismo comercial), ou seja, quando a fonte de riqueza para esse sistema era o comércio;
· Dos séculos XIX e XX, quando o capitalismo entra na sua fase industrial (capitalismo industrial) e a fonte de geração de riquezas passa a ser a atividade industrial – esse colonialismo recebe o nome de neocolonialismo.
A expressão colonialismo pode ser utilizada também em outra situação das relações entre territórios ou espaços geográficos. Um país não precisa ter a posse formal de um território e de sua população para exercer o colonialismo.
O colonialismo do século Xv ao XVIII e o subdesenvolvimento
No século XV, o comércio tornou-se a principal atividade econômica na Europa Ocidental. A fonte de riqueza deixou de ser a propriedade de terras como era no feudalismo e passou a ser, no capitalismo, a atividade comercial.
Como resultado das grandes navegações, a América, a Ásia e a África foram incorporadas ao horizonte geográfico e comercial europeu. Em conseqüência, o colonialismo foi implantado e o comércio se mundializou.
Com o objetivo de assegurar o desenvolvimento comercial, os europeus tomaram as seguintes iniciativas:
· Fundaram feitorias, entrepostos comerciais na África e na Ásia, a partir do século XV;
· Estabeleceram colônias na América;
· Impuseram o pacto colonial, onde cabia às colônias e feitorias fornecer à sua metrópole produtos agrícolas, metais preciosos e produtos vegetais, sendo que aos comerciantes europeus cabia o monopólio (o domínio único e exclusivo do comércio).
Por exemplo, numa colônia ou feitoria portuguesa, somente os comerciantes portugueses podiam comercializar, estava proibido o comércio com comerciantes de outras nações. Cabia às metrópoles fornecer produtos manufaturados para as suas colônias americanas e feitorias asiáticas e africanas somente com a intermediação dos comerciantes de suas respectivas metrópoles.
A acumulação primitiva do capital
A riqueza não ficava nas colônias, era levada para as metrópoles, o que possibilitou que nelas ocorresse uma grande acumulação de capital. Essa primeira fase do capitalismo comercial produziu uma grande acumulação de capital nas metrópoles entre os séculos XV e XVIII. A isso se dá o nome de acumulação primitiva do capital.
Utilizando essa concentração do capital, as metrópoles puderam se modernizar.
A invenção de máquinas representa um grande avanço nas técnicas de fabricação de mercadorias e, conseqüentemente, no aumento da produção. Assim, na metade do século XVIII, surgiu a indústria moderna na Europa. Passou-se da manufatura para a maquinofatura.
A Espanha e Portugal não se preocuparam em desenvolver um amplo sistema produtivo interno, limitando-se a continuar com atividades comerciais. Ficaram dependentes da importação de produtos maquinofaturados, fato que representou um atraso no seu desenvolvimento industrial.
Colônias, feitorias e capitalismo comercial
Durante o período do colonialismo dos séculos XV ao XVIII, ocorreram nas colônias e feitorias:
· Povoamento realizado por europeus;
· Construção e melhoria dos portos para a exportação e importação de produtos;
· Massacre das populações indígenas na América e escravização do negro africano;
· Introdução da agricultura comercial de exportação para abastecer os mercados europeus;
· Exploração de metais e pedras preciosas e sua transferência para as metrópoles;
· Ausência de autonomia política e administrativa;
· Criação de espaços geográficos extrovertidos (espaços cuja produção voltava-se para o mercado externo);
· Proibição de instalação de manufaturas.
Restou às colônias e feitorias um desenvolvimento limitado. Não se beneficiaram das riquezas delas extraídas.
2-Colonização de povoamento e de exploração
Dois tipos de colonização foram implantados pelos europeus: a colonização de exploração e a colonização de povoamento.
Esses tipos de colonização tiveram uma influência muito grande no processo que levou ao subdesenvolvimento e ao desenvolvimento dos espaços geográficos das colônias.
As características desses tipos de colonização assemelham-se bastante nos quatro continentes.
A condição de colônia penal, a ausência de produtos que interessaram ao capitalismo e sua distância da Europa não motivaram a emigração européia para a Austrália, no século XVIII.
No século XIX, porém três fatores contribuíram para a conquista e ocupação das terras da Austrália e Nova Zelândia:
· Introdução da criação de ovelhas e carneiros, favorecida pelas excelentes condições naturais de alguns trechos do território;
· Descoberta de terras de grande fertilidade para a agricultura;
· Descoberta de ouro por volte de 1850;
Da mesma forma que na América, a conquista e a colonização da Austrália e da Nova Zelândia se fizeram por meio do massacre da população nativa.
A colonização de povoamento foi implantada nas colônias do norte e do centro dos Estados Unidos. Os ingleses implantaram a colonização de exploração no Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia e no sul dos Estados Unidos.
Colonização de povoamento
Na colonização de povoamento o principal objetivo era o povoamento de certas áreas do território e a constituição de lares pelas famílias de colonos que saíam de seus países de origem.
Assim, na colonização de povoamento a:
· Organização da produção tinha o objetivo de abastecer às necessidades do mercado interno e não para a exportação;
· Formação era de pequenas propriedades agrícolas, com trabalho familiar e com a preocupação de produzir para o próprio sustento e para o mercado interno (vale ressaltar que os europeus não tinham muito interesse por seus produtos, pois, como o clima era o mesmo, eles produziam os mesmos produtos que os europeus);
· Colonização era realizada por famílias que procuravam formar um novo lar longe das perseguições religiosas e da crise econômica que atingiam a Europa. A colonização de povoamento criou espaços geográficos voltados para si, não dependentes do exterior ou da metrópole;
· Desenvolvimento da manufatura, apesar das proibições da metrópole.
No final do século XVIII os Estados Unidos, já independentes da Inglaterra, formaram um grande mercado interno de consumo favorecido pelos grandes fluxos imigratórios para esse país, estimularam a produção interna e a formação de uma economia forte.
Colonização de exploração
A colonização de exploração, implantada nos demais territórios da América, da África e da Ásia, tinha por objetivo explorar tudo o que a terra e sua gente pudessem fornecer para o enriquecimento dos comerciantes e de suas metrópoles. Nessa colonização:
· A organização da produção, da economia tinha como base o abastecimento do mercado externo;
· O modesto desenvolvimento do artesanato e da manufatura, era decorrente da divisão internacional do trabalho imposta pelas metrópoles às colônias;
· A introdução da grande propriedade agrícola e monocultora tinha como objetivo abastecer o mercado europeu de produtos tropicais e de matérias primas;
· A escravidão de povos indígenas na América, do negro africano na África e na América, e a exploração de inúmeros povos asiáticos ocorreram;
· A produção e organização de espaços geográficos voltados para fora.
A colonização de exploração ajuda a explicar a existência do subdesenvolvimento de muitos países em nossos dias.
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